“QUERERMOS SER O BARÇA DE ÁFRICA E GANHAR A LIGA DOS CAMPEÕES DA CAF”
Tomás Faria é o presidente do Petro Luanda, o clube mais importante de Angola, cuja equipa principal de futebol é treinada por Franc Artiga, ex-técnico do La Masia. A equipa angolana aplica a metodologia do Barça e sonha conquistar, no curto prazo, o seu primeiro título na Liga dos Campeões da CAF. Na presente temporada, Artiga levou o clube à fase de grupos, após ter eliminado o Cercle de Joachim, da Maurícia, e o Stade de Abidjan, da Costa do Marfim. No confronto com as duas equipas, o Petro Luanda marcou dez golos e não sofreu nenhum. Em conversa com o SPORT, Tomás Faria falou das semelhanças entre o clube que dirige e o Barça.
Pergunta: O que torna o Petro de Luanda tão especial?
Resposta: O Nosso clube é muito especial, porque temos mais de dez modalidades diferentes. No futebol, somos o clube mais forte do país, com o maior número de títulos nacionais. Participamos da Liga dos Campeões da CAF seis vezes consecutivas e chegamos às semifinais dessa competição. Atualmente, estamos entre os 20 melhores clubes do continente. Em termos de gestão, nos destacamos pela organização muito séria e responsável, longe de quaisquer suspeitas de corrupção, e pela regularidade com que pagamos os nossos funcionários e atletas. Somos uma entidade sem dívidas e com uma gestão muito sólida.
P: Que influência Albert Puig exerce no clube?
R: Um vice-presidente do clube recomendou-me, anos atrás, o livro de Ferran Soriano, “A Bola Não Entra por Acaso”. Encontrei-me um dia com Ferran Soriano no restaurante Botafumeiro, em Barcelona, e recomendou-me uma consultoria onde Albert Puig trabalhava. Ele hoje trabalha conosco, faz dez anos. Com ele aprendemos que é fundamental manter um estilo de jogo claro e definido. Até então, contratávamos treinadores que traziam as suas próprias metodologias, mas depois invertemos a situação. O que queremos, hoje, são treinadores que se adaptem e acreditem na nossa visão. Implementamos essa metodologia, única, em todas as categorias de base do clube. E não se trata de um sistema tático específico, já que o sistema pode variar, mas a ideia central permanece.
P: Como é que é implementada essa ideia de jogo?
R: Albert Puig aconselhou-nos sobre como melhorar a contratação de jogadores. E, hoje, nós escolhemos os jogadores com base no nosso estilo de jogo. Outra coisa que também aprendemos com Albert foi exigir o melhor de nós mesmos. Antes, nos contentávamos com o que tínhamos, mas agora temos uma cultura de procura pela excelência. Anteriormente, tínhamos muitas deficiências como clube, mas agora trabalhamos duro para oferecer aos nossos atletas as melhores condições. Em termos de formação de jovens, éramos o terceiro melhor clube do país, e agora, podemos dizer que somos os melhores de Angola.
P: O Petro quer ser o Barça de África?
R: Claro. Adoraria. Já somos os melhores no desenvolvimento de jogadores em Angola e estamos entre os melhores clubes de África. Estamos em décimo sétimo lugar no ranking dos melhores do continente, quando há dez anos nem sequer estávamos entre os trinta primeiros. Conseguimos desenvolver os nossos próprios jogadores, como o Barça faz, e, dessa forma, os que contratamos do estrangeiro integram-se melhor.
P: O senhor presta muita atenção ao Barça?
R: O Barça é um grande exemplo, é o que nós gostaríamos de ser. O Barça joga um futebol muito bom e é muito popular no nosso país. Em Angola, os jogos do Barça são mais acompanhados do que os do próprio campeonato nacional. Os jogos dos três grandes clubes portugueses e da Premier League também são muito populares no nosso país.
P: O Petro contratou Franc Artiga por causa do passado dele no Barça?
R: A contratação de Artiga é consequência dos valiosos conselhos que Albert Puig nos dá. Artiga é garantia de que conseguiremos implementar o estilo de jogo que pretendemos. Ele não só trabalha com o time principal, como também está envolvido, diariamente, no trabalho dos treinadores das categorias de base. Ele está a implementar o nosso estilo de jogo de forma brilhante. Albert Puig não está em permanente contacto conosco. Franc está. Ele é uma figura fundamental. Os nossos atletas sabem que ele treinou jogadores como Balde, Gavi, Fermín e Ansu, e isso os motiva muito.
P: Artiga comentou que está muito surpreso com a solidez e a seriedade do Petro de Luanda.
R: Temos consciência de que Angola é um país ainda em vias de desenvolvimento, mas no Petro de Luanda trabalharmos arduamente para criar as melhores condições de trabalho para os nossos jogadores. As nossas instalações são melhores do que as de muitos clubes da primeira divisão portuguesa. Orgulhamo-nos do facto de o nosso clube estar livre de corrupção e não ter dívidas. Todos no nosso clube recebem os seus salários a tempo e sem problemas.
P: É possível sonhar em ganhar a Liga dos Campeões da África?
R: Acredito, sinceramente, que podemos alcançar o objetivo em curto prazo. Se temos nível para passar da fase inicial, podemos passar das fases eliminatórias. No futebol tudo é possível. Em confrontos de ida e volta, a consistência não importa muito. São os pequenos detalhes que contam. Nessas fases eliminatórias decisivas, não há grandes diferenças. Acho que existem quatro ou cinco equipas com mais potencial do que nós, mas podemos eliminá-las. Franc Artiga está convencido de que podemos vencer a Liga dos Campeões.
P: O senhor acredita na possibilidade de ganhar a Liga dos Campeões, sem jogar bem?
R: Acreditamos que o nosso estilo de jogo facilita as vitórias. E não queremos vencer por acaso, num único dia. Queremos vencer com regularidade nos resultados. O caminho que nos aproxima disso é um estilo de jogo claro, como o que aplicamos sem hesitação e com a máxima convicção. Os nossos torcedores, inicialmente, resistiram em aceitar isso, mas agora estão a convencer-se de que escolhemos o caminho certo.
P: Ja imaginou o Barça ganhar a Liga dos Campeões na Europa e o Petro de Luanda em África?
R: Seria a concretização de um dos nossos sonhos. Queremos ser como o Barça e é por isso que, desde que Albert Puig começou a nos orientar, procuramos jogar ao estilo típico do FC Barcelona. Seria bom se ambos os clubes ganhássem as Ligas dos Campeões nos respectivos continentes e se enfrentássem, depois, no Mundial de Clubes. Aliás, estamos a tentar ver se é possível organizar um amistoso com o Barça. Eles são a nossa referência e seria um sonho jogar contra eles. Recentemente jogamos contra o Porto e seria fantástico enfrentar o Barça. Estamos a planificar uma deslocação à Tarragona, para um jogo Barça-Petro Luanda. Seria espetacular.
P: O “boom” de Lamine tem algum impacto em Angola?
R: O facto de Lamine ter raízes africanas é uma vantagem adicional. Aqui, apoiamos muito os jogadores com origens africanas que actuam na Europa. Sentimos uma forte ligação com eles. É preciso dizer que Lamine é um jogador verdadeiramente excepcional, um dos melhores do mundo.




